Monday, August 11, 2008

¿Quién mató a la llamita blanca?

No dia 11 de agosto, o país não poderia ser outro...

¿Quién mató a la llamita blanca? é o segundo filme do diretor Rodrigo Bellot. Sua obra de estréia, Dependencia Sexual (2003), foi muito bem recebida pela crítica. Já aquela, embora tenha sido um imenso sucesso de público tanto nas salas de cinema quanto nas mãos dos ambulantes, foi muito menos unânime nas avaliações dos especialistas.

É um longa-metragem ficcional bastante audacioso, em sua concepção e realização. Enquanto projeto, é mais que uma tentativa de contribuir para a construção de uma indústria cinematográfica boliviana sustentável (o que já é uma tarefa hercúlea). É também a pretensão de usar os formatos e parâmetros visuais e perceptivos que a população consome diariamente para abordar as questões específicas do país.

No texto de apresentação encontrado na página do filme lê-se: “Contamos nuestras historias, con un estilo de narración que estamos acostumbrados a consumir, sólo que ahora, nuestro proceso se lleva a la inversa, nosotros – los bolivianos – somos los productores, los dueños de la historia y del mensaje, y ahora contamos nuestra realidad, para mostrársela al mundo.” (SITE OFICIAL DO FILME)

Para cumprir tal meta, a equipe utiliza uma infinidade de recursos que povoam as imagens hegemônicas: animação, efeitos especiais, tela dividida, letreiros e setas, fotos fixas... Tudo isso carnavalizado, re-apropriado, para falar de “el racismo crónico disfrazado de regionalismo, el clasismo, la intolerancia y la corrupción socialmente aceptada” (Idem).

Seus dois (anti)heróis, os criminosos Jacinto e Domitila, são habitantes de El Alto, cidade vizinha de La Paz, composta majoritariamente por indígenas e camponeses migrantes das regiões rurais do país, e mais recentemente, na década de 80, por diversas questões econômicas , de cocaleros oriundos de Cochabamba e mineiros de Potosí.

Ao longo de sua trajetória pela Bolívia (Jacinto e Domitila – os tortolitos são pagos para levar cocaína até o Brasil, tendo, portanto, que atravessar quase todo o seu país) passam por algumas de suas principais cidades, como Oruro, Potosí, Cochabamba, Santa Cruz, além de La Paz e El Alto, seu ponto de partida. Ficam explícitos os conflitos território-culturais e suas implicações, tais como preconceitos e visões diferentes de gestão para o país.

Jacinto e Domitila usam para praticar seus crimes um traje que mistura elementos ‘andinos’ com ‘ocidentais’ – como afirma Domitila, uma roupa como a dos Power Rangers. Além disso, para se divertir vão a um bar no qual toca uma banda de rock e há uma grande tolerância às drogas ilícitas. Ou seja, não são “índios agarrados a sua cultura secular”, e sim habitantes de uma grande cidade em um país periférico, que carregam consigo, junto às tradições, influencias oriundas de outras partes do mundo.

No caso de seus antagonistas, os policiais Chicho e Perucho, a situação é ainda mais complexa. Perucho é nascido na região ocidental da Bolívia, portanto colla como os tortolitos. Todavia, depois de anos de trabalho dentro das forças repressivas do Estado, adotou o pensamento de que os collas são bandidos, baderneiros, bloqueadores de estrada, o que fragilizou bastante seu pertencimento a esta categoria.

Já Chicho, responsável por emitir alguns dos comentários mais preconceituosos do filme, é filho de uma boliviana com um estrangeiro que não o assumiu. Assim mesmo se considera um camba (das terras baixas, região mais rica do país) alemão, pois, segundo ele, “os cambas nascem onde querem”.

Embora não aponte propostas explícitas para a resolução dos conflitos território-culturais enfrentados pela/na sociedade boliviana e materializados nos quatro personagens principais (seria possível ler a insinuação de uma aliança de classe como solução, mas, de fato, ¿Quién mató a la llamita blanca? é um filme muito mais provocativo que propositivo), a posição da obra é a de que superá-los é possível. E é este o tom que do poema de Eduardo Galeano escolhido para encerrar a narrativa.

“Nuestros países nacieron condenados/a una suerte de fatalidad del miedo de ser/que nos impide de vernos como somos/y como podemos ser...
Pero, ese miedo NO es invencible/el racismo NO es una fatalidad del destino/NO estamos condenados a repetir la historia.”

(reflexões desenvolvidas junto com Cadu Marconi)

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