Tuesday, April 14, 2009

Di buen día a papá


Quem manda atrasar o texto? O Evo Morales já encerrou sua greve de fome.

Di buen día a papá (Argentina/Bolívia/Cuba, 2005), filme dirigido por Fernando Vargas, não apresenta uma história, e sim uma rede de histórias. E, muito mais que o fato de todas elas se passarem em La Higuera, Bolívia, o que realmente as une é a relação que cada uma desenvolve com a figura de Ernesto Che Guevara, morto em tal localidade em 1967.
A fim de caçar o guerrilheiro, diversos militares do exército boliviano são deslocados para a região. A jovem Eva conhece e se apaixona por um deles. Este, porém, não cumpre sua promessa de casamento e vai embora assim que a missão é dada por encerrada, deixando a moça grávida de uma filha do vento.
Dez anos depois, no dia dos mortos de 1977, as famílias que têm algum vínculo com os militares que participaram do assassinato do argentino recebem uma carta alertando sobre a maldição do Che. Para escapar dela, a solução seria rezar por sua alma. Mamina, mãe de Eva, não dá importância ao alerta, até porque tem verdadeiro ódio do pai da menina Ángeles, não se importando com o que aconteça com ele.
Ocorre que quem some é sua neta, a qual só volta para casa depois que a matriarca não apenas ora por ele, mas também lhe oferece comida – reza a lenda no povoado que Che foi capturado porque estava caminhando faminto atrás de algo para comer. A partir de então, a casa inteira vira devota do santo milagroso.
Após outro salto de uma década acompanha-se a chegada de um ônibus de estrangeiros à cidade. Seu objetivo é organizar uma homenagem ao Comandante por conta do aniversário de sua morte. É interessante observar que boa parte deles já conta com alguma peça em seu vestuário que estampe a famosa imagem de Korda manipulada pelo artista plástico Jim Fitzpatrick.
Sucessivos desentendimentos marcam a breve passagem do grupo por La Higuera. Com exceção do prefeito, há conflitos com os militares do local, com jovens nacionalistas e com o noivo de Ángeles – que, diga-se de passagem, vai embora com eles quando deixam a região.
Por fim, chega-se a 1997. Por ordem do governo federal começa uma nova caçada a Che Guevara; na verdade, dessa vez o que está sendo procurado são seus ossos. Instaura-se um impasse: a instância máxima de decisão do país deliberou devolver os restos para a família, mas a população está disposta a fazer de tudo para que estes permaneçam em seu território. Assim, mudam as sinalizações de lugar, fornecem pistas erradas, tudo para que o santo guerrilheiro continue lá.
Não é difícil perceber que Di buen día a papá é uma espécie de Personal Che da ficção – e realizado antes deste, é claro. Ainda que aquele não viaje para distintos lugares distantes entre si, também ficam muito claras algumas das diferentes apropriações que são feitas da história e da imagem de uma das mais famosas personalidades do século XX: o santo de Mamina e Eva, o herói dos jovens estrangeiros, o inimigo do país para militares e nacionalistas, a possibilidade de ascensão econômica através do turismo, vislumbrada pelos políticos...
Além disso, impressiona a simplicidade do universo que está sendo retratado, e é muito difícil não ser contagiado pelo olhar extremamente afetuoso que o diretor lança para os seus personagens, em especial para os habitantes de La Higuera. E cabe ressaltar que, apesar de não ser o foco principal nem da narrativa nem desta análise, algumas críticas bastante contundentes são tecidas sobre a Bolívia, quando, por exemplo, um militar lembra que o mesmo Exército que enterrou Che agora está desenterrando-o.
A única coisa que compromete – e muito – Di buen día a papá é a caracterização da passagem do tempo nas pessoas. Sucedem-se três décadas e pelo menos os adultos estão exatamente iguais ao que sempre estiveram. Uma pena, porque não só demonstra falta de cuidado na produção, mas também complica o entendimento das histórias.

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