Sunday, July 13, 2008

Me Gustan los Estudiantes


Em homenagem ao Eduardo Galeano e as suas excelentes declarações sobre integração regional.

Mario Handler é um dos grandes nomes do cinema uruguaio. Se tornou famoso tanto por sua atuação na Cinemateca del Tercer Mundo, um dos poucos lugares na América Latina onde se podia exibir filmes políticos/militantes com mais liberdade durante os anos 60 e 70, como também por sua intensa produção cinematográfica.
“Me gustan los estudiantes”, um curta-metragem em preto-e-branco de seis minutos, é seu sétimo filme e recebeu o prêmio de Melhor Filme Nacional no ano de sua realização (1968). Talvez de todas as suas obras com claro objetivo de intervenção política na realidade esta seja a mais famosa.
E não por acaso. Assim como Now! (1964), do realizador cubano Santiago Álvares, a banda sonora é uma música bastante conhecida – no caso a canção homônima ao filme composta por Violeta Parra – sobreposta a uma série de imagens bastante fortes.
No entanto, se este elegeu fotos fixas de situações de preconceito racial nos Estados Unidos como sua matéria-prima, aquele usou o material ainda “quente” dos protestos que ocorreram em seu país durante a realização da Conferência dos Chefes de Estado em Punta del Este (especialmente o confronto entre estudantes e policiais).
A provocação começa já com os lindos créditos iniciais, cuja dureza e despojamento dos nomes e funções escritos diretamente sobre a película contrastam com o doce e machista cartaz de apoio ao evento, o primeiro plano da película. Eles também questionam a tranqüilidade transmita pelas imagens da chegada dos principais líderes em seus aviões, assim como o faz as primeiras estrofes da música (¡Que vivan los estudiantes/ jardín de las alegrías!/ Son aves que no se asustan/ de animal ni policía/ y no le asustan las balas/ ni el ladrar de la jauría. Caramba y zamba la cosa/ que viva la astronomía!).
Em seguida, inicia-se uma montagem alternada entre os presidentes em suas protegidas reuniões e a turbulência nos espaços abertos da cidade. A edição de som é muito interessante, já que pontua alguns momentos – em geral os que aparecem manifestantes e polícia – sem se fazer presente todo o tempo, o que seria de se esperar de um filme com uma linguagem de certa maneira próxima ao videoclip.
No âmbito dos protestos, são mostrados os preparativos de uns e outros: os estudantes abrem e penduram suas faixas; os agentes do Estado verificam seus esquemas de segurança. A partir do momento em que os embates vão se tornando cada vez mais duros (ou seja, vão ocorrendo mais “interações”), a montagem segue alternada, mas passando a variar entre ação e reação dos dois grupos da rua, praticamente abandonando os presidentes.
A música deixa de ter intervalos. E mais, passa a se relacionar de maneira mais clara com o plano das imagens. Em diversos momentos, como quando ela se refere a pedras, punhos cerrados e tiranos, há uma associação que pode ser classificada como direta. No caso desses últimos, vê-se a utilização do humor, já que é um dos poucos momentos em que retorna a conferência dos presidentes.
Seu final, que alia um momento de ápice da música, tanto em sua melodia como em conteúdo, com planos dos jovens jogando pedras nas forças repressivas – as quais que se vêem obrigadas a recuar, é extremamente pertinente a um filme com claras pretensões de agitação social, como este é.
Cabe ainda pontuar o domínio da técnica de montagem demonstrada e a elaboração fotográfica. Claro que há seqüências nas quais a imagem é bastante tremida, pela câmera estar na mão de um cinegrafista que precisa correr para sua própria proteção. Contudo, sempre que possível – e em especial nos planos em que há alguma fonte emissora de fumaça (bombas, barricadas) – o que se vê são imagens muito bem compostas, ontológicas dentro de seu gênero.

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