Sunday, March 1, 2009

El camino de San Diego



Aconteceram tantas coisas desde o último post que decidi não vincular este texto a nenhuma data específica. Vejamos quantas vidas tem um blog!

Em 2008, Maradona é escolhido para dirigir a seleção argentina, a despeito de sua pouca e trágica experiência na área datar da década passada. Em La Radiolina (2007), Manu Chao apresenta ao público sua segunda canção em homenagem a Diego: La Vida Tombola.
É para dentro deste contexto de idolatria e amor incondicional que o realizador argentino Carlos Sorín transporta o espectador em seu mais novo filme, El Camino de San Diego (2008), através de uma história a qual, conforme consta no início da obra, não é verdadeira, mas poderia ter sido.
Habitante da região de Misiones, Tati Benítez é mais um dos tantos fanáticos pelo craque que estão espalhados por todo o mundo. Tem o rosto de seu ídolo tatuado no braço, o número 10 nas costas e, invariavelmente, veste uma réplica da camisa com a qual ele jogava quando defendia seu país.
Um narrador onipresente e entrevistas com seus companheiros de trabalho (também moto-serristas), recursos típicos de documentários – e de falsos documentários, reforçam o que a imagem já deixava transparecer, indo além: eles dão a dimensão do quanto é tênue a linha que separa a admiração do exagero que beira o ridículo. Ao menos aos olhos dos outros.
A pacata vida de Tati sofre uma primeira transformação no momento em que ele perde seu emprego. Sem alternativa melhor, o protagonista acaba se tornando coletor de madeiras para um velho artesão, que lhe ensina a identificar no que cada uma delas deve ser transformada.
Um dia qualquer, voltando para casa debaixo de uma chuva torrencial, encontra um tronco enorme no formato de Diego Maradona, o qual, com muito esforço, consegue serrar. A partir de então, todo seu tempo livre é dedicado a limpá-lo e talhá-lo, a fim de doar a escultura para o então recém inaugurado museu do Boca Juniors.
O plano é alterado quando, em 17 de abril de 2004, o ex-jogador é internado em uma clínica com graves problemas cardíacos. Tati decide, então, que deve viajar até Buenos Aires para entregar o presente nas mãos do mito pessoalmente. A vidente de seu povoado confirma: isso está escrito em seu destino.
Como um peregrino que carrega uma cruz, o personagem central caminha diversos quilômetros com seu Maradona de madeira até chegar à estrada. Ao tomar o primeiro ônibus, encontra assento vago ao lado de um padre, com o qual conversa sobre sua empreitada.
A associação construída pelo diretor, neste e em alguns outros momentos, entre a força do futebol e a da religião é muito clara. Em tempos de visitação aos santuários pagãos de Gauchito Gil (homem que, segundo a lenda, foi degolado por ser desertor da Guerra do Paraguai e, ainda assim, evitou a morte do filho de seu algoz quando foi invocado) é “San Diego” quem abre todas as portas a Tati.
Perto da capital, o caminhão de Waguinho, um brasileiro que estava lhe dando uma carona (e que também era devoto de Gauchito Gil), fica impossibilitado de seguir viagem devido a um piquete. O motorista tenta argumentar com o líder do movimento que sua carga consistia em milhares de frangos, os quais iriam morrer se ele não alcançasse logo o destino previsto. Diante da negativa de passagem, ele apela para a delicada situação de saúde de Maradona, o que tornaria urgente a entrega da homenagem. Dessa maneira, consegue que a assembléia aprove sua partida.
Uma vez mais Carlos Sorín realiza um road movie. Uma vez mais trabalha com personagens populares, oriundos de rincões esquecidos na Argentina e afetados pela crise. Ainda assim, El Camino de San Diego é uma obra única em muitos aspectos e, apesar de alguns clichês e perdas de ritmo, provavelmente pode ser apreciada mesmo por aqueles não muito simpáticos ao futebol.

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