Sunday, June 7, 2009

El coronel no tiene quien le escriba


E o governo mexicano deportando para a Colômbia?

Gabriel García Marquez é o meu escritor favorito. Arturo Ripstein, um dos grandes diretores da história do cinema mexicano. Logo, as expectativas em relação a “El coronel no tiene quien le escriba” (México/Espanha/França, 1999) não podiam ser outra coisa senão enormes.
Precisamente por isso, começo este texto destacando aquela que eu considero ser a grande falha do filme e que, de fato, me incomodou o tempo inteiro: a caracterização da mulher do coronel. Excelente atriz no papel de um personagem bem construído, Marisa Paredes vê seu desempenho prejudicado por uma maquiagem pífia a qual nem todo realismo mágico do mundo poderia salvar.
No entanto, é preciso ressaltar que, se a equipe de arte peca neste aspecto, todo o resto, e em especial os interiores das casas, são primorosos. A decadência, a melancolia e a desilusão estão por todas as partes – mesmo junto a aqueles que são “bem-sucedidos” (o compadre do coronel, o padre, Nogales). Uma execução extremamente afinada com a leitura que o realizador faz do livro.
A fotografia é outra área que merece muitos elogios. Os movimentos de câmera – e destaco aqui os executados em peças com espelhos – conferem uma dramaticidade impressionante às sequências, que já seriam, em geral, bastante fortes por si só. A única ressalva que creio poder fazer é a subutilização do céu nos diversos planos em que o coronel espera o correio. Na beira da água, ao amanhecer, em alguma zona “Caribe”, nunca seria demais.
No que diz respeito ao roteiro, este parece estar no nível da obra original (que é bem alto, diga-se de passagem). Paz Alicia Garciadiego fez um trabalho de adaptação impecável. Encontra-se, no filme, tudo aquilo que há de relevante no livro e, o que é mais importante, a sua essência. Por isso a inserção de outras histórias e de novos elementos que conferem a sustentação deste longa-metragem são naturais a ponto de um espectador não familiarizado com a obra de Gabo nem perceber o que é original e o que foi adicionado posteriormente.
Como seria de se imaginar, a versão cinematográfica de “El coronel no tiene quien le escriba” é lenta, mas não arrastada. Os tempos mortos participam como personagens a mais da narrativa, sem, contudo, chegarem em momento algum ao papel principal. O ritmo é mantido o tempo todo e as escolhas de decupagem são bastante coerentes com ele.
Nesta história onde um coronel que lutou pelo México espera há décadas por uma aposentadoria que o Estado, já o tendo esquecido há bastante tempo, nunca vai conceder, onde um casal perde seu filho em última instância por motivações políticas, e onde um galo pode ser, ao mesmo tempo, esperança, companhia e a memória do herdeiro que partiu a sensibilidade está sempre à flor da pele. O que acaba contagiando a nós, espectadores.
Por “El coronel não tiene quien le escriba”, Arturo Rispstein foi indicado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes e ganhou o Goya de melhor diretor da América Latina. Paz Alicia Garciadiego, diga-se de passagem esposa do diretor e autora de outros roteiros arrebatadores, como Porfundi Carmesí, concorreu ao Goya de melhor roteiro adaptado, prêmio que infelizmente não ganhou.
Um último comentário sobre “El coronel no tiene quien le escriba” do cinema. É impressionante como a história funciona de metáfora para a sociedade mexicana pós-revolucionária. Vê-se, através do que aconteceu com cada um dos personagens (combatentes, religiosos, sociedade civil), e também de seus comentários, a dura análise que o diretor faz dos descaminhos de seu país no século XX.
Por tudo isso, é possível afirmar que “El coronel no tiene quien le escriba” é um grande filme, feito por uma grande equipe.

No comments: